terça-feira, 26 de maio de 2009

A "santa" Susan Boyle volta a cantar ao vivo!


A dona-de-casa de 47 anos que arrasou na primeira apresentação do programa de calouros "Britains got a Talent" cantando "I dreamed a dream" voltou, nesse final de semana, ao mesmo programa, agora nas semi-finais, para cantar "Memory" também do musical "Cats" e também conhecida pela interpretação de Elaine Paige.

Com um talento vocal indiscutível, inclusive melhor do que a sua "musa inspiradora", Boyle me chamou a atenção na apresentação por essa imagem, printeada por mim, que ao final da música fazia dela uma autêntica santa. Isso mesmo. Uma santa. Não creio que alguém aqui seja ingênuo de achar que não há manipulação da mídia em torno dela mas, cá entre nós, existe alguma coisa que nos é passada com uma alguma isenção, com alguma imparcialidade?

O show dela e o show em volta dela podem ser componentes importantes em todo esse sucesso, entretanto Susan é real. A biografia passada a nós é convenientemente casta de uma senhora a qual nunca teria feito sexo, sequer beijada. É interessante pois a virgindade ao lado da pureza e das atitudes desengonçadas da cantora reunem todos os componentes para o estranhamento do público visto que remetem a uma inocência quase que infantil, aquela que encanta o adulto, uma pessoa essencialmente triste, como diria Clarice Lispector.

A aparência fora dos padrões estéticos contrasta com sua voz de anjo que nos leva aos ceús, aos deuses, ao divino. Uma virgem que canta como os anjos e para os anjos! Percebendo isso, o programa britânico jogou bem ao fazer um jogo de luzes que parece muito com uma imagem de Nossa Senhora da Aparecida, um dos maiores símbolos do catolicismo reforçando assim esse estereótipo muito bem aceito por ela e pelo público.

Notemos agora as duas músicas escolhidas, mais precisamente o final delas

I had a dream my life would be
So different from this hell I'm living
So different now from what it seemed
Now life has killed the dream
I dreamed.

(Eu tive um sonho quem minha vida seria tão diferente deste inferno que estou vivendo, tão diferente agora daquilo que parecia. Agora a vida matou o sonho que eu sonhei.)

Touch me
It's so easy to leave me
All alone with the memory
Of my days in the sun
If you touch me
You'll understand what happiness is

Look
A new day has begun

(Sinta-me. É tão fácil me esquecer sozinha com a memória dos meus dias de sol. Se me sentir, você entenderá o que é a felicidade. Olhe, uma nova vida começou)


Do limbo a felicidade e ao reconhecimento. A maltratada dona-de-casa sem sucesso, sem marido, abandonada junto com o gato, dá então a "volta por cima". Músicas que falam dela mesmo, logo, parecem ter sido estrategicamente escolhidas visto que corroboram a esse conto da sapa que vira princesa. Duvido q esse alcance mundial pudesse ser mensurado pelo melhor produtor que fosse com a intenção mais sordidamente comercial, ou seja, mérito maior é o dela pela sensibilidade que cosneguiu transmitir. Susan Boyle é assunto de botequim, minha gente!

Ilusão midática, ilusão vinda através da religião, ilusão por alienamento ou mesmo ilusão refletida conscientemente. O fato é que vende-se a nós, através da moça desengonçada, a idéia da pureza absoluta, do bem mais primitivo e com isso a esperança. O mito Susan Boyle é estrategicamente bem construído sim, mas se voltar contra a figura pessoal dela, que nada tem a ver com toda essa pirotecnia, é coisa de mal-amado. E ninguém gosta de gente mal-amada!

http://www.youtube.com/watch?v=U7Ayk9G7-sc

Um comentário:

  1. Quando há a opção pelo sonho, a realidade torna-se insignificante, pois sonhar faz parte do pensar fora de qualquer padrão e barreira. Se a realidade insiste em aprisionar em valores e representações, o sonho é livre. Assim, Susan não canta para a realidade, mas para o sonho: de cantar independente do resultado. Se a realidade é imediatista, o sonho não é apalpável nem cronometrado. O encanto do sonho nunca acaba, assim como a bela voz da Susan que foi descartada e escamoteada em um programa com parâmetros pobres e grosseiros de realidade marcados por passos frenéticos e imediatos, sem saborear a ondulação artística. A memória persiste aos erros. Viva à voz de Susan.

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